ENTREVISTA. Por Taísa Pagno
É difícil lidar com decisões políticas que são tomadas sem levar em consideração o ambiente, que é de todos nós”, admite a presidente do núcleo do Porto da Organização Não Governamental de Ambiente (ONGA) Quercus, Célia Vilas-Boas. A responsável, que considera igualmente complicado “mudar mentalidades”, ocupa este cargo desde 2013, embora o seu envolvimento com a associação remonte a 2008, tendo exercido diversas funções ao longo dos anos.
Licenciada em Relações Internacionais, pelo Instituto Universitário da Maia (ISMAI), e mestre em Gestão de Projetos, pela Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Instituto Politécnico do Porto (ESTG), desde criança sonha em “salvar o planeta”,tendo encontrado na Quercus o local ideal para traçar o seu percurso profissional, fazendo também parte do Conselho Municipal de Ambiente do Porto e do Conselho Estratégico do Parque Natural do Litoral Norte. O caminho, no entanto, não é fácil. “Quando estamos perante evidências e vemos que todos continuam com os mesmos hábitos e não se importam com tudo o que se passa à sua volta, torna-se difícil acreditar que o nosso trabalho vale a pena”,confessa Célia Vilas-Boas, representante das Organizações Não Governamentais (ONG's) no Conselho Regional da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N). “Devia haver mais apoios para a conservação da natureza em Portugal. É lamentável haver associações que lutam por um bem comum e não têm apoios”, desabafa a presidente regional, afirmando que, à parte disso, há projetos realizados que tiveram um reflexo “muito positivo”, como as ações de sensibilização com os jovens do Bairro do Lagarteiro, no Porto. “Perceber que o tempo que passei com eles vai influenciar positivamente as suas escolhas é o melhor que posso receber”.
Sensibilizar a população para problemas ambientais
Célia Vilas-Boas mostra-se confiante quantos às metas atingidas nestes dez anos. “O meu objetivo sempre foi sensibilizar e informar a população para os problemas ambientais, bem como desenvolver ações em prol do ambiente, e é isso que faço”, refere, acrescentando que tem “o privilégio de fazer”, diariamente, aquilo que mais gosta. Apesar das dificuldades que se vão fazendo sentir, a Quercus tem vindo a aumentar as áreas de trabalho, atuando, hoje em dia, ao nível da energia, das alterações climáticas, da poluição atmosférica, da mobilidade, da educação para a sustentabilidade, dos resíduos, do ar, da agricultura e dos solos. Segundo a presidente, é esta capacidade de resposta que a torna “na maior associação ambiental a nível nacional”. Membro do Conselho Estratégico do Parque Natural do Litoral Norte, Célia Vilas-Boas aponta a poluição dos rios, o descontrolo da vespa asiática e a aplicação de pesticidas que destroem o solo e alimentos como algumas das problemáticas atuais que mais têm sido “combatidas” pela associação. No distrito do Porto, para além da resposta a denúncias, da limpeza dos rios e da plantação de árvores, o núcleo está “muito direcionado” para a educação ambiental, realizando ações de formação no terceiro sábado de cada mês, atividades que abordam a agricultura biológica, os repelentes caseiros, a cosmética natural e os detergentes ecológicos, por exemplo. Estas iniciativas, onde normalmente participam jovens universitários à procura do primeiro emprego - “que se querem manter ocupados e apoiar uma causa” -, fazem com que o trabalho seja compensatório. Mas o incentivo à atuação juvenil não se fica por aí. “Vamos a escolas e lançamos, anualmente, desafios aos mais jovens, que lhes permitem desenvolver a consciencialização ambiental”. Consumo consciente e reciclagem como boas práticas Defensora da reciclagem como uma boa prática do quotidiano, aconselha a redução do uso de automóveis e do consumo de carne. “É fundamental que todos tenhamos um consumo consciente”, no sentido de poluir menos e ir ao encontro de uma utilização responsável dos recursos. Atualmente, ouve-se “falar muito de sociedade de consumo”, porque as pessoas são constantemente orientadas para comprar de “forma ilimitada e sem necessidade”, bens, mercadorias e serviços, que são, geralmente, “supérfluos”. “Não devemos comprar por impulsividade ou moda, mas sim porque realmente precisamos”. “Será que a troca constante de produtos tecnológicos, por exemplo, é mesmo fundamental para o nosso dia-a-dia?”, questiona-se Célia Vilas-Boas.
Quercus
A Quercus, fundada a 31 de outubro de 1985, define-se como uma associação independente, apartidária e sem fins lucrativos, sendo constituída por indivíduos que buscam a conservação da Natureza e dos recursos naturais, visando o desenvolvimento sustentável. Com 18 núcleos regionais, distribuídos pelo país, recebeu, em 1992, o Prémio Global das Nações Unidas e o título de membro honorário da Ordem do Infante D.Henrique, atribuído pelo então Presidente da República, Mário Soares. O núcleo do Porto intervêm nos concelhos de Amarante, Baião, Felgueiras, Gondomar, Lousada, Maia, Marco de Canaveses, Matosinhos, Paços de Ferreira, Paredes, Penafiel, Porto, Póvoa de Varzim, Santo Tirso, Trofa, Valongo, Vila do Conde e Vila Nova de Gaia. UA-48111120-1
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