Como a política externa norte-americana, nos anos 1950, preparou ditaduras na América Central25/9/2020
Por Mário Beja Santos ||| É um romance admirável, lê-se e pasma-se como um dos maiores escritores vivos esgravatou e romanceou fontes seguras de um golpe sórdido autorizado pela administração Eisenhower para privilegiar os negócios da United Fruit na Guatemala. A CIA pôs em execução um golpe militar encabeçado pelo coronel Castillo Armas para provocar a queda de um governo reformista, o de Jacobo Árbenz. Golpe meticulosamente preparado intoxicando a opinião interna e a norte-americana, acusava-se Árbenz, um líder moderado, liberal e sem nenhuma ligação ideológica ao comunismo, de que estava a encorajar a entrada do comunismo soviético no país e no continente. É um romance espantoso, que viaja num trepidante vaivém, o Prémio Nobel da Literatura de 2010 funde com mestria a realidade com duas ficções: a do narrador que livremente recria personagens e situações; e a que foi desenhada por aqueles que quiseram controlar a política e a economia de um continente, manipulando a sua história, pondo e dispondo da vida de países que tentaram caminhos alternativos à exploração feudal e ao capitalismo mais alarve. É esta a essência da trama de Tempos Duros, por Mario Vargas Llosa, Quetzal Editores, 2020.
Por Mário Beja Santos ||| Frederick Forsyth é um escritor inglês que começou a ganhar notoriedade quando escreveu em 1969 o seu primeiro romance, Chacal, a que se seguiram outros êxitos editoriais como O 4.º Protocolo e O Caso Odessa, está hoje na lista dos grandes nomes do thriller internacional. É um narrador singular, não tem qualquer equivalência com aqueles seus colegas que escrevem os acontecimentos em tropel, a um ritmo avassalador, com muitas explosões e em permanentes situações de risco. Ele é pão pão queijo queijo, e não esconde a ninguém que escreve histórias em que o Ocidente ganha sempre ou os mauzões de diferentes estilos são severamente punidos.
Reedição mais oportuna não podia haver. O Museu Rafael Bordalo Pinheiro com a EGEAC acabam de editar No Lazareto, de mestre Bordalo. Porquê a oportunidade, os editores explicam-se: “Em 1879, após quatro anos no Brasil, Rafael Bordalo Pinheiro regressa de paquete a Portugal. Quando chega a Lisboa, ao fim de vinte dias de viagem, é obrigado a ficar em quarentena no Lazareto, um edifício em Porto Brandão, na margem sul do Tejo, que era isolado e se destinava a acolher e a desinfetar pessoas e objetos vindos de lugares ameaçados por epidemias ou doenças contagiosas. Durante o período em que ali permaneceu devido ao perigo de propagação da febre-amarela, tomou estes ‘apontamentos’, publicados em 1881 sob o título No Lazareto de Lisboa. Profusamente ilustrado com os seus desenhos, o opúsculo evoca peripécias vividas no Brasil, a viagem de barco, a sua Lisboa, e regista, com humor, os dias de penitência no edifício do Lazareto”.
Por Mário Beja Santos ||| Para quem acompanha esta discussão de cariz ideológico sobre o ensino da cidadania não pode deixar de estranhar a ignorância de algumas cabeças pensantes sobre os aspetos fundamentais de áreas de conhecimento que devem ser acessíveis a qualquer cidadão a partir do ensino básico. Há uma tradição do ensino de certos temas ligados à Saúde, alguns deles envoltos em polémica, mas com maior ou menos entusiasmo e assiduidade fala-se de nutrição e regime alimentar adequado, da prevenção tabágica, dos perigos das drogas, da educação sexual, deixa-se a matéria ambiental como as alterações climáticas às chamadas Ciências do Meio. A informação em Saúde é praticamente ignorada, mesmo com crianças doentes crónicas nas turmas, como se não tomássemos medicamentos e devêssemos aprender a tratá-los com o máximo respeito desde a infância. Cultura do medicamento é coisa que não existe, ele é o bem de consumo mais vigiado do mercado com o qual nos iremos confrontar toda a vida e merece dois tipos de conhecimentos: os gerais, que abrangem toda a problemática do medicamento (será o caso do conhecimento das intolerâncias e das suas interações, do que é uma automedicação responsável, por exemplo) e os específicos, focados nos medicamentos que a pessoa está concretamente a tomar. Se há um jovem diabético na turma, alguém que sofra de artrite reumatoide ou obesidade mórbida, o professor terá levado a comunicar à turma esta informação para gerar comportamentos inclusivos e respeitadores da diferença.
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