Por Mário Beja Santos ||| Para quem acompanha esta discussão de cariz ideológico sobre o ensino da cidadania não pode deixar de estranhar a ignorância de algumas cabeças pensantes sobre os aspetos fundamentais de áreas de conhecimento que devem ser acessíveis a qualquer cidadão a partir do ensino básico. Há uma tradição do ensino de certos temas ligados à Saúde, alguns deles envoltos em polémica, mas com maior ou menos entusiasmo e assiduidade fala-se de nutrição e regime alimentar adequado, da prevenção tabágica, dos perigos das drogas, da educação sexual, deixa-se a matéria ambiental como as alterações climáticas às chamadas Ciências do Meio. A informação em Saúde é praticamente ignorada, mesmo com crianças doentes crónicas nas turmas, como se não tomássemos medicamentos e devêssemos aprender a tratá-los com o máximo respeito desde a infância. Cultura do medicamento é coisa que não existe, ele é o bem de consumo mais vigiado do mercado com o qual nos iremos confrontar toda a vida e merece dois tipos de conhecimentos: os gerais, que abrangem toda a problemática do medicamento (será o caso do conhecimento das intolerâncias e das suas interações, do que é uma automedicação responsável, por exemplo) e os específicos, focados nos medicamentos que a pessoa está concretamente a tomar. Se há um jovem diabético na turma, alguém que sofra de artrite reumatoide ou obesidade mórbida, o professor terá levado a comunicar à turma esta informação para gerar comportamentos inclusivos e respeitadores da diferença. Tenho vindo a defender sem qualquer sucesso que devia haver um pequeno módulo na cidadania para explicar os aspetos gerais sobre o uso do medicamento. Como sou recebido por um muro de silêncio, tenho vindo a apelar para que as instituições universitárias de saúde que melhorem a comunicação com os doentes e que sobretudo os farmacêuticos, pela posição profissional que desempenham, deem o melhor da sua posição para melhorar o aconselhamento farmacêutico para uma boa utilização dos medicamentos e o cumprimento do tratamento, aproveitando os medicamentos que estes dispensam aos doentes. Ninguém deve sair da farmácia sem estar de posse de informação elementar: para que serve o medicamento, ao fim de quanto tempo para começar a sentir os benefícios do tratamento, quais os efeitos secundários que se podem manifestar, quais as precauções que são necessárias com a toma destes medicamentos e no caso de surgirem reações adversas o doente deve procurar falar prontamente com o médico ou ir a uma urgência hospitalar. Um doente informado (no fundo, a praticar literacia em Saúde), mesmo tendo acesso fácil a um vastíssimo manancial de informações na Internet, deve contar com o aconselhamento farmacêutico para filtrar toda esta informação. Mais, um doente responsável só tem a ganhar informando o seu farmacêutico quanto aos medicamentos que toma. Este, sempre que solicitado para, por exemplo, recomendar um medicamento não prescrito, deve avaliar primeiro quanto à existência de doença crónica e apurar qual a terapêutica que o doente está a fazer.
Era esta a literacia em Saúde que também se devia praticar no sistema educativo, induzir desde tenra idade quando se tomam medicamentos se deve saber nenhum deles é inócuo, precisam de uma boa administração, e de adesão terapêutica, havendo sempre perguntas a fazer dentro desse quadro da cultura do medicamento. Por exemplo, quando houver diferentes tomas diárias, há que estar alertado para respeitar o mesmo horário no decurso do medicamento. Também na toma dos medicamentos, convém conversar com o seu médico ou farmacêutico acerca da interação entre o medicamento e o alimento: devemos tomá-lo com o estômago cheio ou vazio? Em que circunstância a ingestão de alimentos pode prejudicar a sua eficácia? Neste tempo de futuro incerto, procure usar e abusar do aconselhamento dos profissionais de Saúde. A literacia, entre tantas vertentes que possui, devia assegurar ao cidadão saber que certos males ligeiros (caso do olho seco, da gengivite ou da prisão de ventre), desde que convenientemente tratados na altura podem evitar doenças mais sérias. É uma pena não se cultivar um jovem para que ele ganhe a convicção de que tem tudo a ganhar com a prática de estilos saudáveis. E não se conhece alternativa a esta literacia em Saúde. UA-48111120-1
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