Por Mário Beja Santos ||| Para quem está cético sobre os efeitos da mudança climática, procure fazer uma leitura destas subidas de temperatura, mais persistente, mais precoces e mais intensas. O mínimo que vos posso dizer é que estes picos de calor são um fator de risco para os ecossistemas e para a saúde, parece que em junho estamos em agosto. Já não falo do impacto destas temperaturas elevada sobre a mortalidade, nem sempre as pessoas de idade sénior, as mais vulneráveis, se defendem convenientemente das caloraças, que também dão pelo nome de canícula. Esta pode definir-se como três dias consecutivos em que as médias das temperaturas mínimas e máximas são superiores aos limiares de alerta. É tudo uma questão de ir ver os boletins do IPMA. Há consenso de que com a mudança climática se vão multiplicar estes tempos de canícula e por conseguinte agravar-se o seu impacto sobre a saúde. A mortalidade só cobre uma parte das consequências. O calor intenso e persistente agrava os problemas de saúde pré-existentes, com destaque para os respiratórios ou cardiovasculares. Também a saúde mental pode ser afetada através de perturbações do sono ou do humor. Isto para já não falar em outros fenómenos da desregulação climática que se têm vindo a agravar por toda a parte: incêndios, seca, poluição do ar, esta com efeitos nefastos para a saúde. A Direção-Geral de Saúde e o INFARMED produzem ampla informação através de campanhas de prevenção para estes tempos de canícula, insistindo que há gestos que salvam vidas, em síntese: hidratar-se bem (beber regularmente, mas sem excessos e pensar também nos alimentos ricos em água); refrescar-se, mais não seja com uma tolha molhada, lavando o rosto e os braços; adaptar as atividades, procurar não andar na rua nas horas mais quentes e saber tirar partido de locais climatizados (desde cinema e bibliotecas a museus, por exemplo); manter a habitação o mais fresca possível. Mas há um enfoque muito particular que a idade sénior deve pela sua importância – é o caso dos medicamentos. Há tratamentos cujos efeitos diminuem devido à capacidade de adaptação do corpo ou por causa da desidratação. Isto passa-se muito especialmente em medicamentos de uso muito corrente como os anti-inflamatórios não esteroides, os diuréticos e os tratamentos da hipertensão, mas também com os medicamentos ditos anticolinérgicos (usados, por exemplo, para o tratamento da doença de Parkinson ou das perturbações urinárias) e também alguns medicamentos ligados a perturbações psicológicas ou psiquiátricas. Compete ao médico avaliar as dosagens das tomas em tempo de canícula. Certamente que o seu médico tomará em consideração os medicamentos suscetíveis de interferir com as capacidades de adaptação do organismo ao calor. Tanto o seu médico como o seu farmacêutico (não esquecer que este é um técnico habilitado em medicamento) conhecem perfeitamente as consequências da desidratação que acarretam perdas de água e de sais minerais que não são compensadas quer por beber água ou pela alimentação. Há muitos medicamentos que contribuem para este desequilíbrio, podendo provocar um disfuncionamento dos rins, por exemplo. Em tempos de canícula o profissional de saúde pode alertar para a necessidade de diminuir as doses dos medicamentos, cuja lista é enorme, abarcando tratamentos como a enxaqueca, a doença de Parkinson, o glaucoma ou as doenças do foro cardíaco. Todo o doente responsável deve dedicar a maior atenção à literacia em saúde. Se, em razão de doença crónica ou se tratamento prolongado, tomar medicamentos das famílias dos diuréticos, os laxantes, os antibióticos, os anti-inflamatórios não esteroides, os utilizados contra hipertensão, é fundamental obter informação à canícula; o mesmo se dirá de quem toma hormonas tiroideias, neurolépticos e antidepressivos. Fale sempre com o seu médico sobre como atuar bem em tempo de canícula com os seus medicamentos, havendo dificuldade na consulta, socorra-se do aconselhamento do seu farmacêutico. UA-48111120-1
Os comentários estão fechados.
|
AutorEdição Mais Norte Categorias |