Por BEJA SANTOS - O que Eugénio Rosa nos vem dizer em “Os números da desigualdade em Portugal”, Lua de Papel, 2015, um longo ensaio onde reúne os principais dados estatísticos sobre as desigualdades pode, sintetizar-se com as situações que apreendemos das evidências do nosso quotidiano: no nosso país todos empobrecerem com a crise, menos os ricos (que ficaram ainda mais ricos. De dia para dia, estamos a aprofundar os caboucos de uma sociedade cada vez mais desigual, uma sociedade aberta às tensões sociais e a todos os enviesamentos de um desenvolvimento económico malsão. Os dados estatísticos são frios, mas de um modo geral as conclusões são chocantes. Primeiro, a economia, a sociedade portuguesa e o poder político em Portugal encontram-se dominados por um reduzido número de grandes grupos económicos e financeiros, grande parte deles são controlados por grandes grupos estrangeiros. Segundo, a riqueza dos mais ricos é fundamentalmente riqueza financeira, a propriedade dos mais ricos é a base dos valores bolsistas. É isso que explica em grande parte a variação da riqueza dos mais ricos em Portugal, pois uma parte dela tem como base a capitalização bolsista dos ativos que possui. Terceiro, a crescente parcela da riqueza criada em Portugal que é transferida para o exterior, que resulta dos estrangeiros possuírem uma parte da propriedade e investimentos feitos em Portugal, contribui para o aumento da riqueza e para o agravamento das desigualdades, já que fica menos para distribuir e para o desenvolvimento do país. Por BEJA SANTOS - Tome-se o ponto de partida e reconheça-se a originalidade que se propõe para a trama do romance: onze anos já passaram desde a partida das tropas portuguesas de Angola (10 de Novembro de 1975) quando é descoberto uma mina de ouro o atirador especial Afonso que ali se escondeu. É capturado, repatriado e passa a ter acompanhamento psiquiátrico. Este atirador especial combateu nos três teatros de operações e irá relatar ao psiquiatra as diferentes vicissitudes que passou durante a guerra colonial, como a percebeu. Quando o romance “Adeus África” caminha para o final, Afonso confessa-se: “Para que acredite em mim, tenho que lhe falar da minha adolescência, que foi em parte passada em Portugal. Eu era filho de uma família com boas posses e eles acharam que eu devia tornar-me o mais português possível. Então, mandaram-me estudar em Lisboa e foi parar ao lugar menos indicado que existia nessa altura na capital para formar a consciência de um angolano favorável á ocupação portuguesa. Tratava-se da Casa dos Estudantes do Império. A Casa era exatamente o contrário daquilo que os meus pais desejavam para mim”. Por BEJA SANTOS - O livro intitula-se “Problemas no Paraíso, O comunismo depois do fim da história”, Bertrand Editora, 2015 e o seu autor é alguém no pensamento contemporâneo: Slavoj Zizek, filósofo hegeliano, psicanalista e ativista político, autor de inúmeros livros sobre o materialismo dialético e crítica da ideologia e de arte, trabalhando no meio universitário europeu e nova-iorquino, onde é amado e detestado. Há quem o considere o pensador de eleição da vanguarda intelectual das novas gerações, mesmo os seus críticos reconhecem a vivacidade e o estilo irrepreensível e muitos são aqueles que não escondem a admiração pela forma como sabe ilustrar as suas formulações teóricas e as histórias exemplares que vai pinçando para pôr em cena as contradições do capitalismo contemporâneo. É um escritor direto, não gosta de esquivas, reconhece que o capitalismo de vanguarda induziu um aumento constante de produtividade, uma das condições que tornou possível um aumento impressionante da qualidade de vida mas não deixa de mostrar todo esse processo se vai saldando numa alienação baseada na intensificação do ritmo de trabalho e na virtualização da vida emocional. Não desmerece da maleabilidade do sistema que ele gostaria de ver demolido, escreve mesmo que “A lição fundamental a retirar da globalização é precisamente que o capitalismo se consegue acomodar a todas as civilizações. A dimensão global do capitalismo só pode ser formulada no plano da verdade – sem – significado, como o Real, do mecanismo do mercado global”. |
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Junho 2016
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