Por BEJA SANTOS - Andamos nas celebrações do centenário do Orpheu, uma revista que representou uma viragem na cultural portuguesa. Em “António Ferro, o inventor do salazarismo”, Orlando Raimundo (Publicações Dom Quixote, 2015), apresenta os principais ingredientes do fenómeno. A publicação foi proposta a Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro em Fevereiro de 1915 por Luís de Montalvor, ambos aceitam com entusiasmo. O pai de Sá-Carneiro irá pagar a despesa, convidam Alfredo Guisado, Armando Cortes-Rodrigues e Almada Negreiros, outros se atrelam, como António Ferro e Augusto Cunha. O endereço de circunstância da revista será a Livraria Brasileira na Rua do Ouro. O número de estreia provoca a estupefação geral, a revista é um enorme imediato sucesso, não faltaram comentários jocosos e uma explosão de críticas. Há quem fale em “maluqueira literária. A polémica reacende-se com o segundo número em que colabora o pintor louco Ângelo de Lima, internado em Rilhafoles (futuro Miguel Bombarda). Pessoa publica aqui a sua Ode Marítima, com a assinatura de Álvaro de Campos, bem como a sua Chuva Oblíqua, Mário de Sá-Carneiro dá à estampa a Manucure. Meses depois, Júlio Dantas refere-se à revista com desprezo, o que levará Almada a escrever o mais notável de todos os seus textos, o famoso Manifesto Anti-Dantas. O número três de Orpheu jamais verá a luz do dia. O pai de Sá-Carneiro cortou-lhes o financiamento. Nada voltou a ser como dantes, o modernismo agigantou-se, depois de tanta escandaleira, de tantas alterações à ordem.
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Junho 2016
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