![]() A Universidade do Minho, com pólos em Braga e Guimarães, tem 19 mil alunos e 1100 professores, mas projeta crescer até aos 25 mil em 2020, com a entrada de alunos estrangeiros...Em entrevista à revista Mais Norte, o Reitor António Cunha, diz que a instituição é das melhores a cooperar com as empresas, mas, insatisfeito, diz que é preciso mais! Adianta que a UMinho colabora com congéneres nos Estados Unidos, Brasil, Angola, Moçambique, São Tomé e Timor-Leste, mas singulariza a cooperação com as universidades da Galiza, reunidas na Fundação SER. Sobre as finanças da instituição, diz que o Governo tem legitimidade para propôr um quadro financeiro para o ensino superior, mas não esconde o seu mal-estar no que toca a flutuações, erros e incumprimentos que dificultam a gestão. Em termos de praxes, acredita que os alunos saberão respeitar as regras, evitando ações no campus que prejudiquem aulas e investigação. Entrevistado por LUÍS MOREIRA [email protected] ![]() Mais Norte: Senhor Reitor! O que é hoje a UMinho e quantas pessoas acolhe? António Cunha: Temos 19100 estudantes, 1100 professores, 1300 com os que estão em regime parcial, e 800 trabalhadores. Ou seja, somos uma comunidade de 22 mil pessoas em Braga, em Guimarães e no AvePark, nas Taipas. Marcámos, ainda, presença no centro de Guimarães, no campus de Couros. Isto deve-se a um crescendo de internacionalização, de aumento de estudantes internacionais, e a expectativa de crescimento, no quadro do nosso plano estratégico, é de que em 2020 teremos 25 mil alunos, sobretudo, alunos estrangeiros. Sucede que, e finalmente, desde o princípio do ano, temos um quadro legal que permite recrutar alunos estrangeiros para cursos de licenciatura e de mestrado integrado, com uma propina a custos reais, 4500 euros para a área das humanidades e 6500 para as ciências e tecnologias. É um espaço certamente aberto aos países de língua portuguesa mas também de outras partes do mundo, nomeadamente de alunos chineses que queiram estudar em Portugal. MN: A crise demográfica não afetou a UMinho? AC: A crise demográfica, o principal problema que temos em Portugal – mas que é também europeu - a manter-se, vai ter gravíssimas consequências! Atinge os escalões etários de entrada nas universidades, a idade dos 18 anos, mas aquilo que se passa hoje no número de nascimentos é ainda mais grave...Portanto, daqui a 15 anos a crise será ainda maior a não ser que este ciclo seja invertido e é essencial alterar este estado de coisas...A crise demográfica é diferente de região para região e o Minho é talvez das áreas onde se sente menos: no último Census todos os concelhos perderam população, inclusivamente o Porto, mas Braga, Guimarães, Barcelos e Famalicão, aumentaram os residentes pelo que a questão não se sente com a acuidade doutras áreas. Mas, o nosso crescimento nos últimos quatro anos, um aumento de 1500 estudantes, resultou da oferta pós-laboral (cerca de 700), e da pós graduação. A formação de base, com 500 novos estudantes, foi feita com os novos cursos em Design, Teatro, e em Engenharia Física, em colaboração com o INL- Instituto Ibérico de Nanotecnologia. LIGAÇÃO ÀS EMPRESAS MN: E o que faz a UMinho em termos de investigação e ligação às empresas? AC: Costumo responder de dois modos: é indicustível a nível nacional que temos bom curriculum, somos uma das universidades que mais cooperam com o tecido empresarial, como se comprova com um estudo recente da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia. O sistema científico da UMinho é o que mais coopera com as empresas: recentemente assinámos um acordo com a Bosch, um dos maiores em Investigação e Desenvolvimento (ID) alguma vez feito em Portugal, quer em termos de projeto quer de financiamento...Mas não deixo de dizer que a relação universidade/empresa tem de ser massificada, ter mais força e expressão...Isto é: apesar de termos muitas coisas de que nos orgulhámos, é uma área em que há muito a fazer. É difícil? Sim, mas está a ser conseguido, e, se pensarmos no que se fazia há 10 anos, a situação é muito melhor...Os desafios do futuro passam pela competitividade das nossas empresas... Se tivermos aqui um ambiente que evidencia uma relação profícua entre a universade e as empresas, podemos captar investimento: se uma empresa estrangeira quiser investir em Portugal virá para o Minho. Mas também é preciso reconhecer que há algum desajuste entre uma população muito bem formada, a nível de doutoramentos, que depois não tem, uma parte dela, onde trabalhar e desenvolver projetos... MN: Recentemente a UMinho assinou um acordo com as universidades do Porto e de Trás-os-Montes! AC: É um memorandum de entendimento, o estabelecimento de um quadro de colaboração efetivo. Um consórcio que abrange questões de dimensão estratégica, tentando responder às grandes estratégias de desenvolvimento regional, numa ótica de alinhamento com a CCDR/Norte e com outras entidades, de gestão do território e do tecido económico/produtivo. Mas envolve questões práticas, como a de cooperar no recrutamento de estudantes estrangeiros, o que passa pela promoção em feiras internacionas, com custos e soluções integradas. Por exemplo, fazermos por ano quatro ou cinco feiras internacionais em conjunto. MN: A institutição tem uma «incubadora» no AvePark, a SpinPark? Tem resultados? AC: A Spinpark aloja 50 empresas e já criou 500 postos de trabalho, sobretudo das engenharias mas que envolvem outros licenciados. O projeto é bem sucedido e isso deixa-nos contentes. Mas repito: aquilo que o país precisa não são 50, são mais de 200 com 10 mil empregos qualificados...Para isso tem de existir o tal ecossistema de inovação, que passa por uma universidade que produza conhecimento e inovação, mas que só existe se tivermos um sistema produtivo muito ativo. Os bons exemplos de Boston, do MIT e da Califórnia, passam pela economia, pela associação entre o estudante que tem a ideia e algum empresário ou pequena sociedade que está no setor, pega nela e avança, como todos os meios financeiros. São os chamados «bussiness angels», que apareceram há dez anos, um sistema que nos USA cresceu muito e está a fazer o seu caminho...O grande problema é acelerar as coisas...começámos atrasados, outros arrancaram há 50 anos, mas o caldo de cultura existe e há que transformar o seu potencial em desenvolvimento. COOPERAÇÃO INTERNACIONAL MN: A nível externo qual a cooperação da UMinho? AC: A nossa cooperação é muito grande a diferentes níveis e patamares...Desde logo com as universidades da rede Erasmus e os vários projetos de investigação envolvidos...Há, depois, um conjunto de iniciativas de cooperação mais específicos, e apostas mais determinadas: eu singularizava a relação com a Galiza, onde participámos numa instituição de direito espanhol, que abarca seis universidades, as da Corunha, Santiago e Vigo e as do Minho, Porto e Trás-os-Montes. É a fundação SER com sede em Santiago de Compostela de que sou presidente há vários anos. Tem vindo a trabalhar para a euro-região, no quadro do posicionamento e enunciado que é feito quer pelo presidente da Xunta da Galiza, Nunes Feijó quer pelo professor Emídio Gomes, da CCDR-N. Com esta Fundação, as universidades ganharão grande centralidade na euro-região. Temos outra parceria muito importante com o MIT, nos Estados Unidos, e a Escola de Saúde tem uma parceria com as universidades de Columbia e Thomas Jefferson, um projeto conjunto de longo prazo. No espaço lusófono temos uma colaboração importante no Brasil, e também em Angola, Moçambique, em São Tomé e Princípe e em Timor-Leste, neste caso com a universidade local e com o Ministério da Educação, para a formação de professores. Cooperámos, ainda, com a China, através do Instituto Confúcio, onde assinámos vários protocolos científicos de ensino e, inclusivamente, com empresas. ![]() FINANÇAS: QUADRO ESTÁVEL PRECISA-SE MN: Fala-se muito nas dificuldades financeiras das universidades.Qual o ponto da situação no Minho? AC: Já estámos a meio do ano, e há questões que têm a ver com verbas que não foram respondidas. Há duas questões. Uma, a dos recursos financeiros que o Governo entende, dentro das suas decisões políticas, - e tem toda a legitimidade para as tomar, concorde-se ou não - , dar ao ensino superior.Estou convicto da bondade do investimento no ensino superior e da sua importância estratégica no futuro... Por isso, os cortes deviam ser minimizados. Mas, a partir do momento em que essas verbas são atribuídas – eu gostaria que fossem mais, mas são o que são num processo mais ou menos negociado connosco – têm de ser cumpridas e não podem ser alvo das coisas mais esquisitas como erros de cálculo e outras questões estranhas que criam instabilidade no sistema. As universidades são administração pública, do ponto de vista de transparência, de procedimentos, do modo como utilizam as verbas e não podem deixar de estar sujeitas às regras, e obrigadas a um quadro claríssimo de transparência e prestação de contas. Mas estão em concorrência, umas com as outras, o que é um fator positivo, a nível interno e internacional tentando ganhar projetos e financiamentos. Além disso, são administração pública mas têm de prestar contas a outras entidades, como o Conselho Geral eleito por pessoas da casa e externas a quem tenho de dizer como estão as contas, como vámos chegar ao fim do ano. Ou seja, quando temos grande instabilidade do lado do governo, a falhar compromisssos reiterados e um quadro de indefinições de coisas que não são claras, a gestão torna-se extremamente difícil. A isto acrescem os espartilhos burocráticos com que somos brindados, coisas que têm, por exemplo, a ver com dificuldades na gestão de pessoal. Ora, a partir do momento em que lhe são atribuídas determinadas verbas, as universidades deviam ter flexibilidade para as aplicar. Em suma: mais do que a questão do orçamento, precisámos de um quadro claro sobre o qual possamos decidir. Estamos em agosto e ainda não sabemos que pessoas contratar, pois já devia saber qual seria o orçamento para 2015, e não faço a mínima ideia. Ainda não sei como é que vamos chegar ao fim do ano, houve um erro do Ministério das Finanças e temos a decisão do Tribunal Constitucional, que acarreta um aumento de despesa. As universidades têm um quadro de autonomia e é nesse quadro que estes assuntos devem ser resolvidos. ![]() ORÇAMENTO ANUAL DE 130 MILHÕES DE EUROS MN: Qual o orçamento anual? AC: A UMinho gere 130 milhões de euros, mas com os aumentos dos salários vão ser 138 ; recebe 50 do Estado, 20 de propinas, cerca de oito a dez de vendas, nas cantinas, residências, etc..faltam aí 40 milhões de euros que chegam de projetos europeus, e acordos com empresas...E esse é aquele que anda sempre a variar de cima para baixo...Em termos efetivos, o orçamento desceu 18 por cento nos últimos anos. MN: Um tema incontornável, as praxes... AC: A Universidade é um local de estudo, de convívio, e é-o, certamente, de liberdade. Não pode deixar de ser um local em que os estudantes se exprimem, com métodos próprios de socialização, por vezes difíceis de percecionar por outros, inclusive pelo Reitor. Mas, e isto é claro, os estudantes não têm de se divertir dum modo definido pela instituição! Mas este quadro tem limites, desde logo, pelos valores definidos pelo nosso estatuto, e o respeito pela dignidade humana; por exemplo, não é aceitável que, num campus onde trabalham cientistas se possa perturbar as suas atividades e, mais do que isso, o campus tem de ser um espaço de liberdade onde ninguém pode ser coagido a fazer aquilo que não quer nomeadamente em questões comportamentais. Há, pois, que garantir que, nas instalações, nenhum estudante seja coagido a entrar em práticas de que não gosta. E encontrar um equilíbrio: os estudantes fazem aquilo que entendem, e são pessoas adultas que já deram várias provas de maturidade, mas têm de encontrar formas de expressar a sua juventude e criatividade, o imaginário da vida estudantil, dentro das regras definidas para todos. Estou certo de que, como até aqui, encontraremos o modo de viver juntos. MN: Como vai a relação com as Câmaras de Braga e Guimarães? E qual o projeto para o edifício do Castelo, em Braga? AC: É boa! Mas volto ao que afirmei acerca da relação com as empresas: é boa, mas nunca podemos estar contentes... pode sempre ser alargada e melhorada, e isto não quer dizer que haja nada de mal; vamos cooperar sobretudo no próximo quadro europeu e num quadro de modelos de desenvolvimento que dão centralidade às universidades e instituições do conhecimento... A UMinho tem projetos de investimento para o próximo quadro comunitário, que estão a ser tratados com as autarquias. No caso específico do Castelo, há várias ideias, que dependem de outras ideias e projetos, é algo em estudo, mas a curto prazo se decidirá qual o destino a dar ao Castelo! MN: Portugal vai sair da crise? Temos futuro? AC: Sou um crente no futuro do país porque temos nove séculos de história a prová-lo, e, portanto, se há projeto na Europa que deu grandes provas de resiliência foi o de Portugal... Isso não quer dizer que não tenha tido momentos muito difíceis e outros de grande sucesso, mas somos um país com grande identidade e capacidade de adaptação, com um sentir muito próprio e acredito que vamos continuar a afirmarmo-nos no mundo. Tenho muita pena que, por vezes, as coisas se tornem mais difíceis, por termos dificuldades em encontrar as soluções mais adequadas. Há coisas positivas, os níveis de formação aumentaram, bem como a qualidade das universidades e empresas, e há que o aproveitar. Só que, é difícil encontrar os necessários níveis de consensualização entre os principais atores políticos para algumas das principais questões, as educacionais, da justiça, da saúde, e as fiscais. Precisámos de uma estabilidade política que permita planear políticas de longo prazo que não podem estar à mercê de mudanças partidárias, e, às vezes, basta mudar um ministro para se mudar de política. Não quero dizer que devamos andar todos a dizer o mesmo, isso seria negativo, mas há três ou quatro áreas onde é fundamental uma base de entendimento mínima entre os principais partidos sob pena de sermos inconsequentes e as políticas serem constantemente alteradas e modificadas, e muitas vezes, sem razão aparente... E o que se está a passar na educação é exemplo disso. MN: O Instituto Ibérico de Nanotecnologia está em Braga...Tem havido cooperação entre as duas entidades? AC: Está cada vez mais produtiva. Temos dois grupos conjuntos dentro do INL, com três professores nossos, mas seria bom que tivessemos 20. O INL tem uma infra-estrutura de grande potencial e é uma grande mais valia que resulta de ser um projeto pensado ao mais alto nível entre Portugal e Espanha. Tem dimensão internacional e grande potencial mas é preciso que o sistema de gestão não crie dificuldades e não impeça respostas rápidas aos problemas. Era importante que os estados português e espanhol melhorassem as condições de gestão para se poder desenvolver ainda mais. O INL tem um quadro de investigadores interessante, que tem certamente de aumentar, mas precisa de melhor definição de objetivos por parte dos dois governos! E, idealmente, deverá procurar, mesmo a nível político, o fortalecimento de ligações ao norte de Portugal e à Galiza. Imagens cedidas pela Universidade do Minho UA-48111120-1
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