![]() As 3 Marias não são marias, aliás apenas uma o é, a guitarrista e cantora Cristina, de segundo nome Maria. Sinónimo de “mulher soberba”, este é um nome “muito português” que fica no ouvido de quem escuta e descobre um tango à moda do Porto, com um cheirinho a fado, e apontamentos eletrónicos, deste grupo cúmplice de três mulheres, nascido em 2008 e que no ano passado lançou o seu segundo álbum: “Bipolar”. Mas esta é uma “bipolaridade saudável” que transmite as suas vivências e crescimento e que assim apresenta 10 temas inéditos, incluindo uma interpretação de “Libertango” do argentino Astor Piazzolla, a grande paixão que um dia as juntou. Entrevistado por LILIANA LEANDRO [email protected] Foi na Garagem do Barão, ali pertinho da Boavista, no Porto, que as Marias se juntaram à conversa com o “Mais Norte”. Fátima Santos, a acordeonista, Cristina Bacelar, a voz e guitarrista e Ianina Khmelik, a violinista, contaram como se juntaram, o que as move, o que as faz rir, como se inspiram, entre risos e frases “herméticas”, entre o que cantam e o que criam, tudo regado da cumplicidade típica entre mulheres e marias. “O mais importante num grupo são as pessoas. Se não há conexão, não há receita mágica para conseguir uma música algo especial. Encontramo-nos as três. Essa é a base”, contou Ianina, a russa agora portuguesa que ao violino toca o que um dia foi apelidado de “novo tango da Invicta”. Este não é o tango argentino genuíno, nem é essa a pretensão, querem sim “contextualizar o tango na cultura portuguesa” incluindo o “espírito do fado”, explicou Fátima, a acordeonista que também estuda belas-artes. Nasceu assim o tango-fusão das Marias, este tango à moda do Porto, inspirado na vida das três e de cada uma, com Cristina como responsável pelo desenvolvimento das letras que até podem surgir de uma ideia, de uma troca de olhares ou de um improviso durante um ensaio. E porque “uma composição musical é sempre uma história”, a da “Maryjoana” – o primeiro single do mais recente álbum – conta a vida de “uma personagem típica do Norte”, ali da zona das Fontaínhas “que é o coração do Porto”, e “é uma homenagem das Marias às esteticistas deste país”. A letra faz cantarolar e não sai facilmente do ouvido, nem a coreografia que se pode ver, e imitar, do videoclip onde “Mary Joana, na sua marquise, arrancava o pelo e fazia a mise”. Vídeo que conta com a própria Fátima no papel da esteticista apaixonada pelo Nando do Fado, apesar de namorar o Tono, interpretado por Alberto Pereira dos “Cabaret Fortuna”. Porque as Marias são assim, juntam o humor à introspeção e à já elogiada interpretação de “Libertango” de Piazzolla. A paixão pelo compositor argentino foi um dia o “ponto de partida” do trio que não só foi felicitado pela família de Piazzolla pela interpretação, mas também já recebeu um convite da discográfica italiana Curci Edizione, detentora dos direitos de autor, para gravar um álbum só com temas daquele que dizem ser “um dos maiores músicos do século XX”. “Para nós é uma responsabilidade pegar nos temas do Piazzolla, mas é simultaneamente um desafio para o qual nos sentimos preparadas para aceitar, desenvolver e reconstruir”, garantiu Cristina. E depois de Piazzolla, veio Simone de Oliveira, esse “ícone da cultura portuguesa” e “primeiro grito da mulher em Portugal” que um dia as três desafiaram para cantar um tema “e ela aceitou”. No palco do Casino da Figueira foram, em maio, as Marias e a Mulher a partilhar e interpretar uma nova versão de “No teu poema” de Ary dos Santos e o “Tango Maria” do grupo. De Simone ouviram: “os meus sinceros parabéns e homenagens” e a esperança de que “este país perceba que estão aqui três músicos extraordinários”. O “Bipolar”
“Maryjoana” e “Tango Maria” fazem parte do segundo álbum do trio – o “Bipolar” – apresentado ao público no final de 2013, quatro anos após o “Quase a Primeira Vez”. Foram quatro anos de crescimento, caminhada, encontro, maturidade, mais vivências e histórias juntas e que, para Ianina, “saíram agora nas pautas, nas novas notas musicais”. No final – e porque voltam sempre “na hora e no dia” – as pessoas são as mesmas, mas o espaço e o tempo entre os dois discos “era fundamental” para o processo criativo, o crescimento musical e a metamorfose das estrelas-marias em constelação. “Este disco é uma súmula desta relação de amizade que nós fomos estruturando. Este ‘Bipolar’ é um resumo de muita coisa que vivenciamos, quer individualmente quer em conjunto”, assinalou Cristina. Do público, e no final de cada concerto, ouvem que a sua música “é uma viagem de sensações”, que dá para chorar e rir e que surpreende a cada tema interpretado. Até ao momento garantem já ter conquistado “uma determinada franja do público” que lhes interessa, ainda que haja “muito para explorar” e que o seu objetivo seja mostrar o seu trabalho “ao maior número de pessoas possível”. Não apenas em Portugal, mas também no resto do mundo, porque As 3 Marias têm esse potencial “de se poderem internacionalizar” e a finalidade, o que falta conquistar, é “disparar as Marias lá para fora” e mostrar a sua cultura, misturada e fundida à moda do Porto, e “sempre com um cunho português”. Do ‘Bipolar’ dizem que “ainda tem muito para andar” e que é preciso “dar oportunidade às pessoas de ouvir e explorar o álbum”. Mas estão já a pensar no próximo, com “algumas coisas alinhavadas”, e ainda a preparar o trabalho sobre Piazzolla, uma das grandes conquistas do grupo. Mas para lá das conquistas, preferem falar numa viagem, numa “vontade de melhorar e ver o resultado final”. “A conquista está dentro de nós”, está dentro das marias, está no encontro das três, nessa “bipolaridade saudável” de sentimentos e partilhas, nessa “vida incerta” de tangos-maria dentro de um disco. Até porque, e como dizem no tema “Corpete Vermelho”: “afinal aconteceu, fica a história, tu e eu”, ficaram As 3 Marias. UA-48111120-1
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Outubro 2016
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