O presidente da Comissão de Coordenação de Desenvolvimento Regional Norte (CCDRN) afirmou quinta-feira, em Amarante, ficar “chocado” pela forma como “os problemas de uma região de baixa densidade [territórios com pouco população] tendem a ser vistos pelas macrocefalias como problemas de pequena dimensão”. “Das coisas que mais me irritam solenemente é quando tentamos defender aquilo que é uma matriz de ocupação do território em base rural em Portugal alguns macroeconomistas olham para nós com desdém e dizem que isso não vale mais do que 2% do PIB (Produto Interno Bruto)”, referiu Emídio Gomes, que participava no primeiro “Serão de Aldeia” da Cooperativa Dolmen, um ciclo de encontros com atores da região e do exterior que pretende debater e planear a estratégia de desenvolvimento rural no próximo quadro comunitário de apoio. “Nas reuniões dizem-me: isso tudo junto, pá, junta o Alentejo, Trás-os-Montes, junta essa coisa toda e isso vale dois por cento do PIB. E dizem-me isso com um desdém enorme, como se uma estratégia de território fosse ‘pibável’. Não sei se o termo existe, se acabo de o inventar”, gracejou o presidente do organismo que faz a coordenação regional no norte do país. Declarações do Presidente da CCDR Norte:
O responsável afiançou “que não é assim que isto se gere, seria absolutamente trágico para a organização do país se isto fosse assim mesmo”.
No entanto, não deixou de também criticar a estratégia de desenvolvimento seguida nos últimos anos. “Só um país rico é que fez a evolução da ocupação do território como nós fizemos”. “Já cometemos um conjunto de erros que não se reflete neste troço do paraíso [onde estamos a jantar, em Olo, Amarante, numa encosta da serra do Marão] mas eu diria que se percorrermos a nacional 15 de Amarante ao Porto percebemos porque é que estamos num país rico. Um país pobre como a Escócia consolidou as suas aldeias e os seus pequenos núcleos urbanos de forma a que eles nunca perturbassem a ocupação plena do espaço rural. Nas zonas de baixa densidade da Escócia não passa pela cabeça de ninguém que o território rural não esteja ocupado com atividade. Só em países ricos como Portugal é que nos permitimos levar a cabo esta política de ocupação do território principalmente na fase pós adesão à União Europeia”, enfatizou. No encontro organizado pela Dolmen e moderado por Rio Fernandes, que reuniu quase meia centena de pessoas, nomeadamente autarcas do território Douro Verde, académicos e técnicos de desenvolvimento, Emídio Gomes defendeu que “a única estratégia” que pode resultar no quadro comunitário 2020 é o envolvimento de todos os atores que estão nesses territórios. Próximo programa regional privilegia os atores locais “As associações de desenvolvimento local, as estratégias de maior proximidade às iniciativas, o apadrinhar destas iniciativas – que está muito visualizado no próximo quadro comunitário de apoio – é do meu ponto de vista a única estratégia possível de resultar” Adiantou, ainda, “que a estratégia pública deve ser agregar, agregar, e perceber onde é que há melhor hipótese de criação de valor e não ficar apenas pelo discurso de retórica da valorização dos recursos endógenos”. Lembrou igualmente que o próximo programa regional privilegia os atores locais e advertiu que deverá haver algum desinvestimento público, até para contrabalançar algum excesso do passado. Emídio Gomes defendeu “maior focalização dos atores de política regional e local naquilo que é a essência da atividade económica” e exortou os municípios “a serem mentores e/ou parceiros destes projetos no desenvolvimento económico”, a que chamou “o seu novo desafio”. Considerou ainda que os territórios mais débeis vão ser tratados com equidade e de forma diferenciada, possibilitando-lhes o acesso a fundos comunitários com territórios que têm as mesmas debilidades e necessidades, o que nem sempre ocorreu no passado. “Do lado da política pública regional o enfoque do programa está todo aí. Como nunca esteve. Para as microempresas, para as pequenas e médias empresas, para a transferência de conhecimento, para a aposta em tudo que seja desenvolvimento local, é aí esta o grosso do esforço do programa regional”, concluiu o presidente da CCDR Norte. O próximo serão da Dolmen, subordinado ao tema “O campo chega ao mercado: transformação, certificação e distribuição”, realizar-se na Fundação Eça de Queiroz, na Quinta de Tormes, em Baião. Foram convidados como oradores Artur Cristóvão, da UTAD, Mário Rui Silva, da Universidade do Porto e Joaquim Ribeiro, dirigente e empresário do setor hoteleiro. UA-48111120-1
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Outubro 2016
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