BARRAGEM DO TUA: Iniciativa dos produtores de vinho do Douro não consegue travar construção da EDP1/7/2014
A iniciativa de dezena e meia de produtores de vinho do Douro de enviarem uma carta à UNESCO a pedir a suspensão imediata da barragem de Foz Tua é altamente louvável mas ao mesmo incompreensível por essa posição estar a ser tomada numa altura em que a construção da barragem está numa fase de “não retorno”, ou seja, não tem mais condições de ser travada. As mais recentes fotos da EDP sobre o empreendimento, que apresentamos, mostram a fase muito adiantada da obra. O paredão da barragem (e o seu coroamento) ficarão fechados dentro de poucos meses, como se pode comprovar pelas imagens, disponíveis no site “a nossa energia”. O que está acontecer no Tua ocorreu no Sabor anteriormente. Os protestos contra o aproveitamento que destruiu um importante vale – a barragem está quase concluída, devendo entrar em produção ainda este ano, segundo o site da EDP – foram sendo ouvidos quer antes quer durante a construção, mas o governo de José Sócrates sempre fez “ouvido moucos” aos apelos dos ambientalistas e das mais variadas figuras da sociedade portuguesa. Esta iniciativa de contestação à barragem de Foz Tua, concessionada à EDP e que tem entrada em produção hidroelétrica marcada para 2016, granjeou a simpatia de outras figuras, além dos produtores de vinho. O surfista McNamara, reconhecido depois das suas aventuras nas ondas da Nazaré, também veio publicamente manifestar o seu desagrado face à construção da barragem na bacia do Douro. Além das questões ambientais para o vale do Tua, da destruíção de uma parte significativa da via férrea, inviabilizando a sua ligação à linha do Douro, do risco de a região ainda vir a perder a classificação da UNESCO de Património Mundial, o aproveitamento hidroelétrico é considerado por muitas figuras pública e até por especialistas da área da energia um desastre em ternos económicos. Barragem vai custar 4900 euros a cada família, acusa a Plataforma Um video da Plataforma Salvar o Tua refere que as novas barragens vão custar aos portugueses 16 mil milhões de euros, ou seja, 4900 euros a cada família. E é hoje mais ou menos consensual que Sócrates apenas avançou com o plano de barragens para obter verbas extra da EDP e da Iberdrola para colmatar o défice público. Por isso, muitos interrogam-se hoje sobre a sustentabilidade destes empreendimentos que parecem ter apenas o objetivo, nas atuais circunstâncias do país, de sustentar o modelo da rede das eólicas, onde a EDP tem também interesses importantes. No video da plataforma, o presidente da EDP, António Mexia, enfatiza esse facto. O antigo secretário de Estado da Energia, demitido pelo governo Passos Coelho após grandes pressões dos produtores de energia, veio recentemente confirmar que o país não precisa de mais barragens e tem produção instalada suficiente para o ano 2030. Em agosto de 2012, o professor Paulo Morais escrevia no Correio da Manhã que as novas barragens, Tua incluída, eram uma “negócio de ventoinhas”: “Ainda por cima, todo este prejuízo é provocado por um negócio calamitoso. A Barragem do Tua é energeticamente inviável, pois a sua capacidade permite a produção hidroeléctrica num reduzidíssimo período anual de pouco mais de um mês. No restante, a actividade predominante deste equipamento será a bombagem de água, com recurso a energia eólica. Esta será subsidiada, paga por todos os consumidores através do défice tarifário incluído na factura de cada lar. Servindo apenas para gerar lucros milionários para a EDP e seus parceiros das eólicas, a Barragem do Tua destrói o Douro para rentabilizar um negócio de ventoinhas”. Para o professor do Porto, conhecido pela sua luta contra a corrupção e adversário deste negócio ruinoso para o país como é a construção das novas barragens, “o governo português envergonha-nos na comunidade internacional” também por não defender o seu património. “Ao permitir que se coloque em risco a marca Douro Património Mundial, o governo português envergonha-nos na comunidade internacional. Portugal é referenciado como um dos países que desdenham ou destroem património, como os talibans que no Afeganistão destroçaram os Budas gigantes, ou até como o Mali, onde se demoliram templos milenares. Com a construção da Barragem do Tua, permite-se a depreciação patrimonial duma região demarcada, aliena-se procura turística de altíssima qualidade, desvaloriza-se o Vinho do Porto. Inexplicavelmente, os dirigentes políticos que tantas medidas justificam a troco duma imagem externa positiva de Portugal ficam mudos e quedos perante esta atrocidade”, afirmou. Produtores preocupados com alterações no clima
Na carta enviada à UNESCO, os produtores durienses afirmam que “esta construção vai aumentar os níveis de humidade” e “a ocorrência de doenças nas vinhas”. Alegam também que a “paisagem única do Douro é uma das principais ferramentas de divulgação da região e dos seus vinhos” e que as barragens “estão a transformar negativamente a paisagem da região”. Assinam o documento as seguintes empresas: Quinta dos Murças (propriedade do Esporão), Muxagat, Douro Boys (Quinta do Crasto, Quinta do Vallado, Niepoort, Vale Dona Maria, Quinta do Vale Meão), Ramos Pinto, Vinhos Conceito, Quinta do Pessegueiro, Tavadouro Vinhos, Sociedade Agrícola Vale do Tua, Quinta do Monte Xisto, Quinta do Noval Vinhos S.A. e Quinta da Romaneira. Os viticultores exigem a “suspensão imediata” da barragem. A iniciativa está incluída na campanha “Salvar o Tua, Proteger o Douro” lançada pela “Plataforma Salvar o Tua” que, apesar da fase adiantada da construção, procura ainda sensibilizar a comunidade nacional e internacional para as consequências da construção da barragem de Foz Tua. UA-48111120-1
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