APOIO SOCIAL DA LIGA CONTRA O CANCRO: A população é generosa, as empresas andam "alheadas" e o Estado ainda ganha com os donativos

 - Entrevista com Vítor Veloso (II Parte)

“A Liga não recebe nada do Estado. Vive dos donativos que lhe dão”, realça Vítor Veloso. Porém, paga IVA. “O Estado está a usufruir dos donativos que a população faz, o que é uma coisa inacreditável”, considera o mesmo responsável. Só em transportes, medicação e alimentação fornecidos a doentes, a Liga gasta “300 mil euros por ano”.Com um orçamento anual de quatro milhões de euros, a instituição tem tido uma “situação de equilíbrio económico-financeiro, o que é fundamental”, afirma o seu presidente, assinalando que tal se deve à generosidade da população. “Não temos tido diminuição dos donativos”, os quais rendem 3,5 milhões de euros anuais.O NRNLPCC promove atividades diversificadas para “colmatar as suas necessidades financeiras”, tais como espetáculos, jantares ou caminhadas. Claro que a crise também passou por lá e foi necessário “eliminar gorduras”, no dizer do próprio Vítor Veloso. “Havia maus hábitos, sabe”.

O responsável aproveita para realçar que, “sobretudo, é a população verdadeira que é generosa” com a Liga. “Não contamos com grandes empresas”, observa. Acrescenta que isso não o surpreende muito, explicando porquê: “As grandes empresas gostam mais de patrocinar o futebol, um clube, um cantor, um festival ou qualquer coisa do género, porque mediaticamente dá-lhes mais projeção”.

“Procuramos ver onde o Estado falha 
e é aí que entramos”

A Liga não se deixa vencer pelas dificuldades que lhe vão aparecendo e que se acentuaram nos últimos anos, reflexo natural da situação difícil que o país vive. Na sua mensagem, “não há impotência ou desespero”. O discurso “é sempre positivo”, indo no sentido de “desmistificar ao máximo o cancro”, que neste momento “é o principal problema de saúde pública”. 

Vítor Veloso alerta para a necessidade dos governos investirem mais na prevenção primária e secundária, “sob pena da incidência (da doença) aumentar” à boleia de estilos de vida amigos do cancro, tais como o consumo de álcool e de tabaco ou o sedentarismo e a obesidade. A prevenção proporciona “diagnósticos muito mais precoces, o que vai permitir também mais curas”. O médico costuma dizer que “é preferível prevenir do que curar”. 

A Liga não quer competir com o Estado e os seus serviços. “Procuramos ver onde o Estado falha e é aí que entramos”. A Liga diz ser a instituição, a nível nacional, que tem “maior número de atividades” de prevenção primária alertando para a importância de estilos de vida saudáveis. Estima-se que 60 a 70% dos cancros se devem aos estilos de vida.

Inaugurado laboratório 
para “miúdos”

Vítor Veloso disse à Mais Norte que “o Núcleo Regional do Norte” reforçou este ano a sua intervenção com a abertura de um novo serviço nas suas instalações. Trata-se de “um laboratório” em que “os miúdos contactam com as células normais, com as cancerosas, com o ADN”, contando para esse efeito com o apoio de investigadores habilitados.

“As crianças são boas mensageiras” da obra que o NRNLPCC  desenvolve e que compreende “milhares de ações” de índole diversa durante o ano. “É uma coisa fantástica”, conclui o responsável. O Núcleo tem 15 investigadores ao seu serviço, três funcionários incumbidos de dar formação em escolas e “dá anualmente 15 bolsas” para investigação na área oncológica.

“Ministro é boa pessoa, mas 
está mal assessorado”

O presidente do NRNLPCC afirma que o ministro da Saúde, Paulo Macedo, “é boa pessoa, bom gestor e tem boas intenções, mas está rodeado de pessoas que podem ser médicos mas que neste momento não fazem a mínima ideia do que é a medicina”. Vítor Veloso conclui que Paulo Macedo “está mal assessorado”. 

Os seus colaboradores próximos “não fazem ideia de que há pessoas que vão às cinco da manhã tentar arranjar uma consulta, e às vezes não conseguem”. “Estão perfeitamente desfasados da realidade”, resume, considerando, por outro lado “um crime tirar Cirurgia Cardiotorácica (do Hospital) de Gaia” que diz ser a melhor da Região Norte, juntamente com o serviço congénere do Hospital São João.