“Portugal está mesmo em pior estado do que estava no início do programa de resgate”, considera ex-economista da CE

Um antigo conselheiro do presidente da Comissão Europeia, Philippe Legrain, que trabalhou com Durão Barroso durante cerca de três anos afirma que “Portugal está mais endividado que antes por causa do programa” [de resgate], dirigido pela troika (FMI, Comissão Europeia e BCE). Numa longa entrevista ao Público deste domingo, 11 de maio, Legrain considera que os resgates em Portugal e na Grécia serviram exclusivamente para ajudar os bancos alemães. Philippe Legrain acrescentou que o que provocou a crise do euro foi a tentativa de salvar a banca alemã e francesa.

Os cortes salariais nos países do sul da Europa também são considerados uma “medida errada”, por apenas ter agravado a recessão e consequentemente ao aumento da dívida.

O ex-conselheiro de Barroso até exemplifica o erro do abaixamento brusco dos salários ocorrido em Portugal com o que se tem passado com os fabricantes de calçado, “que contrariaram a política de cortes e salários baixos e conseguiram chegar ao topo do mercado mundial do setor do calçado”.

“A decisão de emprestar dinheiro a uma Grécia insolvente transformou de repente os maus empréstimos privados dos bancos em obrigações entre Governos. Ou seja, o que começou por ser uma crise bancária que deveria ter unido a Europa nos esforços para limitar os bancos, acabou por se transformar numa crise da dívida que dividiu a Europa entre países credores e países devedores”, refere na referida entrevista.

Dívida pública cresceu e privada não caiu

Considerando que a troika “desempenhou um papel quase colonial, imperial, e sem qualquer controlo democrático” agiu apenas “no interesse dos credores de Portugal” e impondo “as políticas erradas”

“As pessoas elogiam muito o sucesso do programa português, mas basta olhar para as previsões iniciais para a dívida pública e ver a situação da dívida agora para se perceber que não é, de modo algum, um programa bem sucedido. Portugal está mais endividado que antes por causa do programa e a dívida privada não caiu. Portugal está mesmo em pior estado do que estava no início do programa”, enfatiza o economista.

Primavera Europeia nos próximos cinco anos

Defendendo que “é preciso que a Comissão Europeia seja muito mais controlada no plano democrático”, com um presidente da Comissão “eleito”,  Philippe Legrain advoga na entrevista ao diário português, feita pela sua correspondente em Bruxelas, “que este tipo de sistema quase imperial sem controlo democrático não é sustentável. Isto não vai mudar com as próximas eleições. Mas vai ser preciso, nos próximos cinco anos, construir uma democracia europeia a sério, mudar a natureza da Europa. Ou seja, precisamos de uma Primavera Europeia.”