Por Mário Beja Santos ||| 6 de dezembro, choveu copiosamente de manhã e no princípio da tarde, depois amainou, aproxima-se o lusco-fusco, está na hora de pôr o meu projeto em andamento, procurar iluminações (em sentido figurado, também) para enviar votos de boas festas para quem guarde lembrança, recordar os meus vivos e os meus mortos, passar a ponte baloiçante entre o pretérito, o presente e o almejado futuro. O poeta Manuel Alegre num dos seus livros épicos disse que quando nós desembarcarmos no Rossio é sinal de grandes mudanças, falava do combate à tirania, eu estou no Largo de Camões, onde outrora havia barracas e enxovias, depois urbanizou-se e pôs-se no centro o vate imortal, puseram-lhe crepes no Ultimatum, o Partido Republicano emergia de uma afronta. Aqui decorreu o final de uma das obras-primas de Eça de Queirós, por aqui andarilhei todos os dias, quando trabalhei na Rua do Século, e aproveitava as horas do almoço para bisbilhotar cantos e recantos de inexcedível beleza: subir e descer a Rua da Emenda, percorrer as Chagas, a Rua da Misericórdia, bisbilhotar os alfarrabistas da Rua do Alecrim ou da Calçada do Combro, o resto, em termos de paisagem, estava por minha conta, deram-me o folgado gabinete outrora ocupado por Maria Lamas, era só abrir a janela e tinha o Tejo quase até à foz. Lembranças felizes, evocações felizes, votos felizes para o que a roda da fortuna nos reserva.
O elementar do consentimento informado, direito inalienável dos doentes e utentes de saúde11/12/2020
Por Mário Beja Santos ||| Por lei, entende-se por consentimento informado a autorização esclarecida prestada pelo doente/utente antes da submissão a determinado ato médico, qualquer ato integrado na prestação de cuidados de saúde, participação em investigação ou ensaio clínico. Esta autorização pressupõe uma explicação e respetiva compreensão ao que se pretende fazer, o modo de atuar, razão e resultado esperado da intervenção consentida. Por outras palavras, na relação médico-doente, este deve previamente dar consentimento livre e esclarecido de qualquer ato que o médico lhe pratique. É consentimento informado porque o médico dá informação prévia, é ele o detentor do conhecimento científico, e só depois de esclarecer como vai atuar é que o doente consente. Trata-se de uma codecisão que se fundamenta na participação do doente, é uma regra de ouro da cidadania na Saúde. Para consentir de maneira “esclarecida” a Lei enumera as caraterísticas da informação que o médico deve dar ao doente: a natureza da doença, o grau de urgência, a duração da intervenção, as eventuais contraindicações, os efeitos secundários e os riscos inerentes à intervenção.
Por Mário Beja Santos ||| O sistema digestivo é bastante propício a perturbações (caso das infeções, inflamações, distúrbios digestivos e até do trânsito intestinal, mas há outras) sendo numerosas as situações de queixa que levam os doentes a ir à farmácia. Tudo até pode começar com casos de higiene oral, incluindo as doenças ligeiras da boca, mas o que ora importa são problemas gástricos (caso da azia, náuseas, vómitos e enjoo) e até males ligeiros dos intestinos, situações essas que podem ser tratadas com medicamentos não prescritos pelo médico.
Por Mário Beja Santos ||| A definição institucional de febre é que esta se carateriza por uma elevação da temperatura corporal acima da normal variação diurna; esta temperatura varia de acordo com a idade, o grau de atividade, a hora do dia, o meio ambiente, o estado fisiológico e até o próprio local onde é medida. O nosso organismo tem as suas formas de medição, a temperatura corporal é regulada numa região do cérebro, o hipotálamo, é ele que define a temperatura corporal ótima. Embora não exista consenso absoluto acerca dos valores em referência, considera-se que estamos perante uma situação de febre quando a temperatura retal é igual ou superior a 38ºC ou quando a temperatura axilar é igual ou superior a 37,4ºC.
Por Mário Beja Santos ||| Quando, por Manuel Alegre, Publicações D. Quixote, 2020, é um daqueles poemas que nos obrigam a pensar que na sabedoria da idade nos libertamos de muita enxúndia, fica tudo na mensagem essencial, porque o vate se abalança a falar das longas décadas de caminhos percorridos, dos lugares da infância, das travessuras das fronteiras, dos amores jovens, da primavera e do verão, dos muitos sonhos em pôr mais justiça neste mundo, na preocupação ambiental, o que foi viver no exílio a luta contra a ditadura, o ter pedido a Deus que salvasse alguém naquela guerra em que participou, a esperança que nunca desvaneceu depois desse passado quase excessivo “tão grande que talvez outro futuro aí comece”.
Por Mário Beja Santos ||| A chegada do outono faz-se acompanhar de chuvas, mudanças bruscas de temperatura e daí uma maior predisposição para o aparecimento ou exacerbação de certas doenças. Da gripe já temos dado conta das complicações habituais que podem aparecer no aparelho respiratório, um risco agravado nestes tempos de Covid-19. À gripe há que juntar as constipações, que também são infeções respiratórias, manifestam-se com menor gravidade e são distintas da gripe, na sua sintomatologia, apresentam febre ligeira, corrimento ou congestão nasal, bem como tosse e congestão no peito. Têm uma semelhança de sofrimento com parecenças à gripe, quando falamos dos fumadores e dos bronquíticos crónicos, eles sofrem muito com a constipação.
Por Mário Beja Santos ||| A vacina parece ser a palavra mágica para nos fazer dobrar o cabo das tormentas da pandemia. Graças à vacinação, vivemos com mais saúde, poupam-se vidas. Contudo, surgiu uma corrente que nega a importância das vacinas. É verdade que a educação para a Saúde aposta declaradamente no Programa Nacional da Vacinação, mas conviria uma maior mobilização que congregasse todos os profissionais de saúde, os centros de saúde, os estabelecimentos escolares, as autarquias, as misericórdias, as associações que de qualquer modo estão ligadas aos cuidados de saúde (doentes, promotores e consumidores), para se desenvolver um esforço de sensibilização sobre o que é a vacinação e como ela se tornou numa ferramenta indispensável do desenvolvimento humano.
Quer por sessões públicas, quer por reuniões de pais e encarregados de educação, quer no atendimento às futuras mães, quer no próprio ambiente escolar, o mundo das vacinas deveria ter alta prioridade, explicar o que é a vacinação, que elementos se encontram nas vacinas, as vantagens que elas trazem para proteger as pessoas e para derrotar as doenças (recordar que ainda hoje se morre de sarampo), que os planos de vacinas protegem as crianças desde a mais tenra idade contra a poliomielite, a difteria, o tétano, a tosse convulsa, a hepatite B, o sarampo, a rubéola, a papeira, e muito mais. Lembrar a quem nos escuta que foi graças a este plano de vacinação que estamos mais protegidos contra as doenças infeciosas graves, desde a infância até à idade sénior. E que há idades precisas para receber estas doses sucessivas de vacinas (veja-se https://www.sns24.gov.pt/guia/programa-nacional-vacinacao/). Por Mário Beja Santos ||| A questão do envelhecimento tornou-se tópico dominante das políticas multidisciplinares, envelhecer repercute-se na Saúde e na Segurança Social, na cultura e nos tempos livres, nas medidas de política económica e financeira, é um nunca mais acabar de problemáticas envolvidas, tendo sempre por alvo os benefícios que uma visão integrada do envelhecimento possam oferecer em termos de desenvolvimento humano. Inevitavelmente, tudo recai no mercado, porque estamos a falar de tempos livres, cuidados na alimentação, culto da forma, cuidados de Saúde, ser menos dependente na arte de envelhecer, ser doente crónico dotado de literacia e autonomia, poder beneficiar do apoio de um cuidador informal, saber fazer um bom uso dos medicamentos e dos serviços de saúde, dispor de uma casa segura onde haja objetos inteligentes adaptados às limitações dos seniores; e enfim, a sociedade no seu todo só tem vantagens em que este envelhecimento seja bem-sucedido mediante uma solidariedade entre gerações.
Por Mário Beja Santos ||| Há publicações muito bem elaboradas por associações de doentes, destaco o boletim da Liga Portuguesa Contra as Doenças Reumáticas, um modelo de Literacia em Saúde. No seu número mais recente, uma pediatra, Patrícia Costa Reis, fala da importância das vacinas em pessoas com doenças reumáticas e escreve:
“As pessoas com doenças reumáticas inflamatórias, como o lúpus, a artrite reumatoide, a artrite psoriática ou a espondilite anquilosante, têm uma desregulação do seu sistema imunitário, o que as torna mais suscetíveis a infeções. Para além disso, são tratadas com medicamentos imunossupressores, que diminuem as defesas contra as infeções, como é o caso dos corticoides ou os fármacos biológicos. Estes doentes têm, assim, um maior risco de infeções graves. A vacinação é da maior importância. Contudo, existe uma baixa cobertura vacinal nestes doentes. Num estudo internacional, constatou-se que apenas 25% dos doentes com artrite reumatoide tinham recebido a vacina da gripe há menos de um ano e apenas 17% tinham sido vacinados com a vacina antipneumocócica nos últimos cinco anos (…) Cada vez se sabe mais sobre a segurança e a eficácia dos vários tipos de vacina em doentes reumáticos imunodeprimidos. Na maioria dos doentes ocorre uma resposta adequada às vacinas. Algumas recomendações práticas sobre este tema para adultos e crianças com doenças reumáticas inflamatórias: é desejável que o estado de vacinação seja avaliado pelo seu médico antes do início da terapêutica imunossupressora; caso a estabilidade da doença o permita, a vacinação deve ser efetuada antes do início da terapêutica imunossupressora. Para saber mais, contacte a Liga Portuguesa Contra as Doenças Reumáticas através do mail lpcdr@lpcdr.org.pt. Por Mário Beja Santos ||| É do senso-comum tirar partido da boa utilização dos medicamentos, interessar-se por Literacia em Saúde, praticar automedicação responsável, com concordância do médico e indicação farmacêutica, tem imensas vantagens. Quem respeita a posologia recomendada, a duração da terapêutica, terá maiores probabilidades da eficácia do tratamento, evitar os tormentos de uma espera na lista de médico de saúde ou a uma ida à urgência do hospital, espaço permanentemente sobrecarregado com a pandemia, enfim, a adesão à terapêutica, em última análise, irá evitar o congestionamento dos hospitais e dará ao doente uma vida com mais qualidade.
Aponta-se como causa mais frequente de não-adesão à terapêutica, mais do que o esquecimento da hora da toma do medicamento, a falta de informação suficiente para compreender a forma como o tratamento deve ser feito e a importância de a ele aderir de alma e coração. Esta não-adesão pode ainda dever-se a receios ou ideias incorretas sobre os medicamentos que, entre outras consequências, podem levar a que os doentes acreditem que as doses são muito elevadas, ou, em sinal oposto, achem se tomarem maior quantidade de medicamentos vão ter uma resposta mais rápida ao tratamento. |
AutorEdição Mais Norte Histórico
Dezembro 2020
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