DOURO VERDE: Dolmen discutiu em Tormes e Porto Antigo a estratégia de desenvolvimento até 202016/6/2014 Nos dias 29 de Maio e 5 de Junho, aquele que será o espaço para o novo restaurante da Fundação Eça de Queiroz, na Casa de Tormes, Baião, e o Hotel Porto Antigo, junto ao rio Douro, em Cinfães, acolheram a segunda e terceira sessões, respetivamente, da IV Edição dos Serões de Aldeia. A discussão sobre a governação, as oportunidades e os desafios dos territórios rurais, tendo como horizonte a programação dos próximos fundos comunitários e o desenvolvimento do Território Douro Verde, foi o mote para, num contexto informal, cruzar conhecimentos exteriores à região, com os que existem no seu interior, assim como promover o encontro de saberes académicos, responsabilidades institucionais e sensibilidades que apenas os atores locais detêm. “O campo chega ao mercado: transformação, certificação e distribuição” foi o tema que, no dia 29 de Maio, em Tormes juntou como principais oradores Artur Cristóvão, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Mário Rui Silva (Universidade do Porto), Mário Araújo e Silva, da DRAPN (Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte) e Joaquim Ribeiro (Douro Palace Hotel e AHRESP) e contou com a participação dos presidentes de câmara da região, presidentes das assembleias municipais, outros responsáveis políticos, académicos e técnicos do desenvolvimento local. Dando as boas-vindas, o Presidente da Câmara Municipal de Baião, Dr. José Luís Carneiro, começou por lembrar a importância histórica e literária de Eça de Queiroz, fazendo uma resenha histórica sobre o momento que se vivia no final do séc. XIX e os aspetos similares com aqueles que se vivem hoje em dia, nomeadamente ao confronto entre a cidade e o campo, paradoxo imortalizado no romance do escritor “A Cidade e as Serras”, e era e é, no fundo, um paradigma do desenvolvimento. Naquelas que são as questões de desenvolvimento no futuro, e concretamente no que se refere ao sector agro-alimentar, José Luís Carneiro, apresentou como uma das suas principais preocupações “garantir a certificação e uma rede de comercialização dos produtos locais.”
Para o edil baionense as palavras-chave são certificar e comercializar, avançando que “gostaria de contar com aqueles que produzem, apoiá-los na relação com as universidades e com os centros de investigação dos produtos a certificar, e depois termos apoios para criar uma rede de estruturas de divulgação e comercialização dos nossos produtos.” Abrindo o debate aos palestrantes e tendo como tema de fundo “como fazer chegar o campo ao mercado”, o professor Artur Cristóvão colocou a tónica na dinâmica a que assistimos atualmente, pela procura de produtos mais autênticos, fazendo a apologia do conceito de slow food, subjacente aos circuitos curtos de comercialização, de que são exemplos o projecto PROVE ou as inúmeras hortas urbanas. Referiu-se ainda à importância da certificação dos produtos agro-alimentares, não obstante considerar que deve ser feita uma reflexão, desde logo porque dos 41 produtos agroalimentares certificados atualmente na Região Norte, apenas 16 estão disponíveis no mercado para consumo. A razão disto, na ótica do professor está nas dificuldades de “organização, desde logo ao nível da fileira de produção e produtores, problemas de escala e da própria dimensão do mercado, problemas de informação dos consumidores, problemas de compromisso da distribuição da colocação destes produtos no mercado.” Para Mário Rui Silva, da Universidade do Porto, “este é o campo da globalização, que num certo sentido é a destruição daquele campo ao qual associávamos os ritmos diários, a vivência, os ritmos anuais das estações, das tradições, das culturas.” Discorrendo sobre a sobrevivência do campo na era da globalização, com os seus obstáculos e desafios, e fazendo uma leitura das possibilidades de desenvolvimento do mundo rural, Mário Rui Silva, apresentou uma via que solucione a problemática da desagriculturação e das dificuldades de conexão com o mundo globalizado, defendendo que o campo é mais que terra arável. Essa via passa pela especialização inteligente, no âmbito da qual devemos valorizar economicamente os recursos endógenos: “com base nos ativos específicos do território, que aquele campo que não tem possibilidade de entrar na corrida da globalização, que é uma corrida que tudo homogeniza, e que exige escala global, pode encontrar uma fonte de criação de valor económico, que não é seguramente mais ineficaz, pode ser tão eficaz como a via da globalização, para criar emprego, bem-estar e rendimento para as pessoas, que é o objetivo final da economia.” Por seu lado, Mário Araújo e Silva, da DRAPN, introduziu a questão da segurança alimentar e alimentação saudável, sendo feita mais uma vez referência à slow food, conceito associado a “produtos bons, limpos e justos”. Focalizou-se nas questões da transformação, certificação e distribuição, que devem ser sempre vistas como forma de estar no mercado e corresponder às suas exigências, no sentido de acrescentar valor aos produtos, apelando a uma consciência local, e à diferenciação que também é local e está inserida num determinado contexto territorial, tendencialmente inimitável. O director adjunto da DRAPN referiu-se ainda à problemática da concentração da oferta “se considerarmos que existem nesta região 127 produtores de pequenos frutos a que correspondem 183 hectares, facilmente se percebe que só é possível penetrar nos mercados havendo organização na produção. Segundo este responsável da DRAPN “O território engloba tudo, nós temos que saber vender o nosso território, com a componente de património, história, cultura e edificado, temos os produtos agroalimentares e a produção agrícola, temos o turismo e a restauração e a hotelaria, e todas estas partes têm que trabalhar em conjunto, nós temos que ser bairristas, temos que ter produtos locais na nossa restauração, nos nossos setores presentes no território, isto é fundamental e pode estar sob um chapéu, uma marca territorial forte que identifique os produtos ao território, que tenha um produto turístico associado aos produtos locais”. Por fim, Joaquim Ribeiro, do Douro Palace Hotel e da AHRESP, recorrendo à sua experiência profissional hoteleira em Baião, defendeu a necessidade de ligação e inserção na comunidade e do estabelecimento de parcerias locais, no sentido da promoção dos produtos regionais como forma de permitir experiências aos turistas e visitantes, no sentido de mantê-los no território tirando daí proveito económico. Segundo este empresário hoteleiro “trabalhar no turismo só funciona se for em rede, promovendo-se a envolvente (…) para mantermos o cliente no hotel o truque é envolver toda a comunidade local nesta ação que acaba por nos trazer mais-valias. (...) O cliente que hoje vem para a hotelaria e faz estas incursões pelo interior não quer ficar dentro do hotel, (…) não se confina só aos limites do concelho. Ele vem para aqui mas quer conhecer Baião, Amarante, Marco, Cinfães, Resende.” Terminou referindo que os hoteleiros não vendem só alojamento, mas também “afetos e sentimentos.” Já depois da ronda de intervenções e algumas participações dos presentes, Mário Rui Silva rematava dizendo que muitos dos territórios de baixa densidade estão “no limiar de serem capazes de dar a volta “há que descriminar positivamente, nomeadamente pela via de isenções fiscais ou taxas de co-financiamento de 0%”. Mas este esforço tem também de vir de dentro. “O interior também tem que ser capaz de controlar a cadeia de valor, não se cingindo à produção artesanal”, (…) “tem que subir um elo na cadeia de valor e isso faz-se ao nível da distribuição e comercialização. Falta ambição, uma marca e muito marketing: porque não promover o “slow tourism”. Atravessando o rio Douro, para a outra margem, e mudando o tema, na sessão dos Serões de Aldeia, que decorreu no dia 5 de Junho no Hotel de Porto Antigo, em Cinfães, esteve à mesa a discussão “O rural é mais do que a agricultura: Cultura, turismo, cidades e tudo o mais.” Os oradores foram: Melchior Moreira (Presidente do Turismo do Porto e Norte de Portugal), Jorge Umbelino (Escola Superior de Turismo do Estoril), Rosário Machado (Rota do Românico) e José Eduardo Lopes (Hotel Porto Antigo, Cinfães). Saudando os convidados, o Presidente da Câmara Municipal de Cinfães, Armando Mourisco, reconheceu a valia desta iniciativa e agradeceu à Dolmen o trabalho que tem desenvolvido num território que é de interior. Salientando as questões da governação dos territórios, afirmou: “Nós de territórios desfavorecidos, nós da região que temos dos piores índices de rendimento per capita do país, nós da região que temos das mais altas taxas de desemprego, mas também temos o potencial. (…) Temos que perceber definitivamente que todos juntos podemos ser fortes, todos juntos podemos ter uma voz, e é esse o desafio que na minha opinião é lançado a este território, o desafio da governabilidade.” Entrando diretamente no tema, o primeiro orador, Melchior Moreira, Presidente do Turismo do Porto e Norte de Portugal, referiu que de facto o “rural é muito mais que agricultura e só há turismo porque há território, e as pessoas que aqui habitam são o fator de sucesso”. Continuou evidenciando a importância do trabalho conjunto entre o setor privado e o público: “Se hoje temos sucesso no setor do turismo no Norte de Portugal, é por causa deste binómio entre setor público e setor privado da região, e os resultados devem-se à participação do investimento do setor privado do Porto e Norte de Portugal.” Segundo este responsável do setor do turismo “estamos hoje perante um novo paradigma, no qual se valorizam as várias dimensões do desenvolvimento económico e social, na qual se salienta o turismo. Hoje a revalorização do espaço rural, contida nas práticas de crescente procura do campo e das atividades de lazer, bem como de um leque diversificado de outras formas de usufruição e consumo, retratam bem a enorme expressão que as questões do mundo rural e do ambiente têm alcançado nas últimas décadas. Aliás, o apelo ao reencontro com a natureza, a constante procura da harmonia, a necessidade de mais qualidade de vida e o respeito pelo meio ambiente, evidenciam, de modo claro, aquilo que deverá ser entendido como um novo paradigma, inclusive contribuindo para que o espaço rural não seja mais do mesmo.” Já Jorge Umbelino, da Escola Superior de Turismo do Estoril, apresentou uma reflexão sobre a potenciação dos recursos de uma região para o seu aproveitamento turístico: “A construção de um destino turístico começa sempre por pessoas, que são agentes locais, responsáveis políticos, empresários, que refletem sobre o conjunto de valores e recursos que têm na região à qual pertencem e imaginam que pode ser objeto de interesse por parte de pessoas que o visitam.”, e identificou três fatores que permitem avaliar a posteriori o sucesso do estabelecimento de uma região turística, e que passam pela sua construção enquanto destino turístico: o dimensionamento da oferta turística, a perceção e aprendizagem com a concorrência, e o histórico da oferta. Quanto ao território do Douro Verde enquanto região de atração turística, afirmou: “No caso do território onde hoje estamos, eu diria que pode ser um território de moda… o tipo de recursos que aqui estão disponíveis, talvez há 10, 15 ou 20 anos seriam menos identificáveis por aquilo que seriam os hábitos e os gostos da procura turística, mas hoje não é verdade. O tipo de valores que aqui estão presentes são valores da modernidade, do ponto de vista do que se interpreta serem os valores da procura turística atual.” Rosário Machado, responsável da Rota do Românico, apresentou este produto de Touring Cultural com 16 anos de existência, há 4 alargado ao Tâmega e Douro Sul, considerando-o um fator de coesão territorial integrador de diversas dimensões, nomeadamente a económica e enquanto fator turístico. Rosário Machado referia que não raras vezes confunde-se recursos com produtos e entende-se, erradamente, que por termos os recursos temos os produtos. Há que pensá-los e construi-los: “a Rota do Românico é hoje um produto estratégico e um produto de turismo que tem capacidade de atrair visitantes e que acima de tudo tem a capacidade de respeitar a comunidade local porque se baseia na honra e no seu ADN. Quando falamos de património falamos de ADN das comunidades locais. É fundamental não perdermos o rumo neste nosso território.” Por seu lado, Jorge Eduardo Lopes, do Hotel Porto Antigo, e enquanto gestor hoteleiro salientou os desafios mais concretos do setor na região e a necessidade de aumentar a estadia média do turista e aumentar significativamente a receita média que o turista deixa, pedindo aos responsáveis políticos que dediquem a devida atenção a fatores que são importantes na ótica do turista e se prendem com as acessibilidades, a informação e o conforto. Evidenciou ainda a necessidade dos municípios se articularem e trabalharem em conjunto, vendendo a região como um todo. A próxima sessão dos Serões de Aldeia, terá como tema «Agricultura e raças autóctones: A ruralidade resiste alterando-se», e decorrerá na Feitoria dos Becos, em Paredes de Viadores, Marco de Canaveses, no dia 19 de Junho, contando com a presença de Luís Ramos (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro), José Rocha Fernandes (DRAPN), Susana Oliveira (Câmara Municipal de Penafiel) e João Gonçalves (Escola Profissional de Agricultura de Marco de Canaveses). UA-48111120-1
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